XIII Convenção de Contabilidade de Minas Gerais – Segundo dia

23 de setembro de 2021

Por Assessoria de Comunicação do CRCMG

Segundo dia do evento é marcado pela entrega do Prêmio Lopes de Sá, palestras e debates sobre temas diversificados da atuação contábil

Para dar início aos trabalhos do segundo dia de convenção, foi exibido um pronunciamento enviado pelo governador de Minas Gerais, Romeu Zema, aos participantes do evento, falando sobre a importância do trabalho do profissional da contabilidade no auxílio às empresas, para que cresçam e adotem políticas de responsabilidade social e de sustentabilidade. Em seguida, o comentarista econômico Carlos Alberto Sardenberg apresentou a palestra “Cenários econômicos”.

Na ocasião, Sardenberg mostrou o panorama da economia global pós-pandemia, comparando-a com a do Brasil, e falou sobre o ritmo da economia brasileira, inflação e emprego. Além disso, o palestrante destacou as exigências do mercado e a importância do profissional da contabilidade nesse contexto. Segundo ele, o consumidor exige cada vez mais a transparência das empresas – desde o procedimento das empresas para produzir um produto ou serviço até como ela remunera seus funcionários. Por isso, as empresas têm que se mostrar sustentáveis do ponto de vista de gestão e do ponto de vista dos números. “É necessário que os contadores sejam criativos e tenham ações sustentáveis. Os números, além de serem exatos, devem estar prontos para serem exibidos à população para demonstrar a honestidade do processo. É uma exigência de a sociedade saber o custo real dos produtos, se a empresa está lucrando muito ou não. Tudo isso tem que ser administrado, pois, no mundo de hoje, ninguém está sozinho. De algum modo, o seu comportamento ou da empresa, ruim ou bom, será conhecido ou nas redes sociais ou na imprensa. É sempre bom estar preparado para responder à sociedade.”, acrescentou.

“O futuro chegou: o que já mudou e o que vai mudar?” foi o tema da palestra realizada pelo publicitário, administrador de empresas e especialista em inovação e transformação digital, Walter Longo.

Para ele, a idade média das relações comerciais, pessoais e sociais está terminando agora porque, até hoje, tudo era avaliado e orientado pela média da população e, agora, estamos entrando num momento do mundo em que cada um é dono do seu destino, faz o que quer, um momento da individualização. Porém, ainda há esferas que permanecem na idade média, em que o bom comportamento subsidia o mal comportamento. “Um novo mundo está surgindo, uma mudança que precisa ser percebida por todos os profissionais, de qualquer segmento. Estamos deixando a idade média e entrando na idade mídia. Cada um de nós tem se tornado um agente de mídia, formamos opinião, colocamos opinião para o mundo, geramos conhecimento e os aparelhos que nos rodeiam também se transformam em mídia, transferem informação, acumulam dados e prestam serviços de individualizar cada atendimento. Tudo está virando mídia.”, explicou Longo.

Walter Longo ressalta que o que de mais relevante ocorre é que a internet e o mundo digital estão mimando as pessoas, valorizando o indivíduo como nunca havia ocorrido antes, e uma sociedade mimada não é mais formada pelo mesmo cliente com o qual se estava acostumado. “Na idade mídia, uma nova premissa precisa ser entendida: precisamos tratar desigualmente pessoas que se parecem iguais. Não queremos ser tratados como no tempo da idade média e as empresas têm feito esforço para se adaptar a esse novo mundo de uma sociedade mais mimada, partindo para a individualização total em todas as áreas. Não sou eu que me adapto ao mundo, agora, o mundo se adapta a mim.  Quanto mais eu sei sobre meus clientes, melhores serviços eu ofereço.”, disse.

Assim, segundo Walter Longo, gerir uma empresa daqui para frente, em qualquer área, significa entender como funcionam as pessoas, conhecer os desejos, as necessidades e os interesses e dar aos clientes a sensação de serem os únicos, apesar de se estar trabalhando com vários.

E, apesar de toda inovação disponível, é a relação humana que vai fazer diferença. Na opinião dele, não seremos trocados, pois homem e máquina estão se transformando, unidos para prestar mais e melhores serviços. “Essa é a dimensão que precisa prevalecer nas empresas de futuro. Entendo que é um fator de adição e não de subtração.  A inteligência artificial não vai tirar empregos, e sim devolver a nossa humanidade.”, finalizou.

Palestras técnicas

A parte da tarde começou com a realização de três palestras simultâneas. Na sala 1, foi apresentada a palestra “Organizações contábeis – o mercado de contabilidade no Brasil: fusões, aquisições, franquias e redes”, que foi mediada pela vice-presidente de Fiscalização, Ética e Disciplina do Conselho Regional de Contabilidade de Minas Gerais (CRCMG), Andrezza Célia Moreira, e contou com a presença dos palestrantes Roberto Dias Duarte, professor, escritor e administrador de empresas, e Maria Dorgivânia Arraes Barbará, presidente do Conselho Regional de Contabilidade de Pernambuco (CRCPE), contadora e consultora na área de Gestão Empresarial.

Roberto iniciou sua fala mostrando uma tese das quatro fases de transformação do mercado, em que a empresa começa a desenvolver seus produtos de forma artesanal e familiar. Com o passar do tempo, ela moderniza sua estrutura organizacional e se profissionaliza, até chegar a um determinado momento em que, mais amadurecida, quer crescer. Essa empresa vê que não é fácil crescer via técnica de marketing e venda, enxerga os concorrentes que não acompanharam essa evolução e começa a propor fusões e redes. Assim, se consolida e passa a dominar o mercado. Segundo Roberto, o mercado tende a caminhar para a fase de fusões, redes e franquias de forma mais lenta, porém, na contabilidade, esse processo é mais acelerado. “No Brasil, esse processo é ainda mais acelerado do que nos Estado Unidos e na Europa. O empreendedor brasileiro supera desafios, o que não é tão fácil para empreendedores de outros países. Além de sermos resilientes, sempre fomos inovadores. Isso faz da gente um mercado mais atrativo. Com isso, empresas de fora têm interesse em colocar recursos aqui. Porém, uma fusão tem que ser extremamente planejada, pois tem uma probabilidade enorme de dar errado.”, explica Roberto.

Segundo Dorgivânia, a união entre empresas tem diversos objetivos, como acelerar o projeto do negócio, conquistar o mercado e alavancar os resultados da empresa. Porém, é preciso ficar atento, pois nem todo modelo cabe no negócio de determinadas organizações. “Acontecem fusões no Brasil inteiro. Porém, antes de aceitar uma fusão, é preciso estar atento a vários pontos. A dica que eu dou é: tenha uma boa assessoria jurídica e leia bastante o modelo de negócio proposto para que você possa decidir. E, antes de decidir, olhe para dentro da sua organização. Quem sabe dentro da sua equipe tenham pessoas que possam alavancar a empresa, sem necessidade de fusão naquele momento?”, finalizou Dorgivânia.

A palestra “O Siafic e os impactos nos sistemas contábeis dos RPPS: desafios e oportunidades” foi realizada, na sala 2, pela contadora, Mestre em Administração e Doutora em Ciências Contábeis, com Pós-doutorado em Contabilidade e Controladoria, Diana Vaz de Lima, e mediada por Sandra Maria de Carvalho Campos, vice-presidente de Fiscalização, Ética e Disciplina do Conselho Federal de Contabilidade (CFC).

Diana Vaz apresentou o conceito do Sistema Único e Integrado de Execução Orçamentária, Administração Financeira e Controle (Siafic), a previsão legal e o prazo para os entes se adequarem para a adoção do sistema, os passos a serem seguidos pelos gestores municipais e as questões mais sensíveis e abordou os desafios nos Regimes Próprios de Previdência Social (RPPS) que não implantarem o Siafic e as oportunidades nos RPPS que implantarem. 

“Vejo como é interessante a ideia do sistema único, mas desde que ele fosse patrocinado e que o órgão regulador fosse oferecer o sistema e isso já informaram que não irá ocorrer. Assim, muitos vão ter que lidar com isso provocando o assunto, porque muitos municípios ainda não saíram do plano de ação que foi feito às pressas para ser formalmente encaminhado em maio deste ano. Temos um grande desafio pela frente e é preciso haver um bom planejamento.”, disse.

Na sala 3, a integrante oficial do Conselho da Federação Internacional de Contadores (Ifac), Ana Maria Elorrieta, abordou o tema “A governança que agrega valor”, em uma palestra mediada por Alexandre Queiroz de Oliveira, conselheiro do CRCMG.

Ana Maria analisou a estrutura de governança corporativa e a gestão de crise, principalmente no cenário de pandemia. Ela destacou a importância dos profissionais da contabilidade e os chamou para se aproximarem e serem protagonistas. “Nós temos experiências que contribuem para a melhoria das organizações. Melhores conselheiros fazem melhores conselhos, melhores empresas e melhor País.”, disse.

Além de discutir sobre conhecer e monitorar o negócio e gerar valor, Ana Maria destacou que acredita que todos os sistemas podem ser aproveitados pela governança corporativa das organizações, entre elas, entidades sem fins lucrativos, hospitais e escolas.

Prêmio Internacional Lopes de Sá

Na sequência, foi realizada a solenidade de entrega do Prêmio Internacional de Produção Contábil Técnico-científica Professor Doutor Antônio Lopes de Sá. O prêmio internacional é uma realização do CRCMG, com o apoio do CFC, da Fundação Brasileira de Contabilidade (FBC) e da Academia Brasileira de Ciências Contábeis (Abracicon).

O anúncio dos ganhadores foi realizado pela coordenadora do Comitê Científico, contadora Jacqueline Veneroso Alves da Cunha, e pela presidente do CRCMG, contadora Rosa Maria Abreu Barros. Os vencedores foram:

Categoria “Iniciação Científica”:

1º lugar – “Impactos da pandemia: fatores que explicam a divulgação voluntária no contexto do Covid-19” – Autores: Clarissa Gonçalves de Almeida e Thiago de Abreu Costa, da Universidade Federal do Rio de Janeiro

2º lugar – “A relação entre agressividade fiscal e Book-tax Conformity nas empresas brasileiras de capital aberto” – Autores: Bernardo Fernandes Lott Prímola e Eduardo Mendes Nascimento, da Universidade Federal de Minas Gerais

3º lugar – “Eventos subsequentes decorrentes da Covid-19” – Autores: Patrícia Fernanda Teixeira Reis e Renata Soares França, do Centro Universário Unihorizontes – Minas Gerais

Categoria “Acadêmico-científica”:

1º lugar – “Ensino superior contábil: determinantes do desempenho e modificações em uma década” – Autor: Luciano Pinheiro de Sá, da Universidade Federal de Juiz de Fora

2º lugar – “Análise comparativa dos níveis de provisão para perdas de crédito no SFN apurados segundo os padrões do Bacen e do Iasb” – Autores: Ana Paula Elias de Oliveira e Adolfo Henrique Coutinho e Silva, da Universidade Federal do Rio de Janeiro

3º lugar – “Tratamento contábil das criptomoedas” – Autores: Matheus de Lima Marques e Odilanei Morais dos Santos, da Universidade Federal do Rio de Janeiro

Os primeiros, segundos e terceiros lugares, em cada uma das categorias, receberam R$6 mil, R$4 mil e R$2 mil, respectivamente.

Palestras gerais

Em seguida, na palestra “Tecnologia como ferramenta de desenvolvimento”, a especialista em novas tecnologias, Lisiane Lemos, abordou diversos assuntos, como a importância de conhecer o cliente e suas dores, a inovação dentro desse novo mercado digital e o comportamento de liderança, e falou sobre a importância de as empresas investirem em diversidade. Segundo ela, o cliente tem que estar no centro e todos os produtos têm que ser balizados nas pessoas que a empresa serve. “Nós temos a oportunidade de ajudar as pessoas a ter uma vida melhor. Quando o seu cliente cresce, você cresce também. Todos crescem juntos.”, explica Lisiane.

Lisiane discorreu também sobre o desafio da invisibilidade digital, que prejudica a vida de uma empresa. “Como eu quero ser lembrado pelos clientes e parceiros? O desafio de hoje é saber que tipo de presença você quer ter nas redes sociais, quanto você pode ser útil e qual plataforma usar. É importante que você faça um planejamento e invista nisso. Tem espaço para todos nesse meio e não tem outro caminho a não ser o digital. Divida conteúdo com outras pessoas para fortalecer sua marca.”, explica. E, para finalizar, ela falou sobre diversidade. Segundo Lemos, a diversidade é um motor de inovação, já que o cliente escolhe empresas que dão oportunidade para diversidade. “Empresas que investem na diversidade têm uma lucratividade maior. Você não precisa ser uma empresa grande para liderar a discussão sobre diversidade. Além disso, tenha profissionais diferentes, pois pessoas diferentes trazem inovações diferentes. A diversidade vai ser o grande segredo para enfrentar esses mares turbulentos. Para navegar nesse universo onde não sabemos qual será o futuro, precisamos de pessoas mais colaborativas, mais interrogativas e mais resilientes. O futuro é coletivo, construído e compartilhado.”, finalizou.

Encerrando a programação do dia, o porta-voz do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, Pedro Aihara, realizou a palestra sobre o tema “A calma no caos” e apresentou importantes reflexões que se aplicam a todas as áreas de atuação e ressaltou como a serenidade, a segurança, o trabalho em equipe, a empatia e a tranquilidade são fundamentais para a entrega de resultados positivos.

Fazendo um paralelo entre o trabalho dos bombeiros e o sucesso em suas operações, especificamente sobre o rompimento da barragem de Brumadinho, e o trabalho desempenhado pelos contadores e outros profissionais, Pedro Aihara enfatizou os pontos preponderantes para bons resultados: propósito, pois todos precisam ter o mesmo ideal sempre; entrega de soluções e não apenas de trabalho; excelência, que permite ter um domínio das tarefas, e conhecer os impactos das suas atividades nas tarefas dos outros.

“Quando a gente lida com o outro ou quando lidera uma equipe, precisa compreender a demanda do outro, praticar a empatia e ser um especialista em pessoas. Sempre há algo que pode ser feito, sempre há espaço para pessoas engajadas. Podemos pelo menos tentar mudar o impacto daquele problema para as pessoas e entender o real valor e significado do seu trabalho. Sempre é possível estabelecer valor, cuidado e acolhimento em tudo.”, destaca Aihara.

Para ele, é sempre preciso relembrar as escolhas feitas porque, no meio da caminhada, com o passar dos anos, no exercício de uma atividade, as pessoas se esquecem do motivo inicial que a levaram a estar ali e podem perder a empolgação, então, é preciso se reinventar. Finalizando, o palestrante propôs uma reflexão: “Quem é você, qual sua atividade, seja ela qual for, você pode ser a pessoa mais importante do dia mais difícil da vida de alguém. Atualmente, o que as pessoas mais precisam não é só da competência técnica, mas, principalmente, da consciência de conexão. Não importa qual seja o cenário ou contexto, sempre é possível estabelecer conexão e cuidar uns dos outros. O nosso maior ativo são sempre as pessoas.”, declarou.