Segundo dia XI Convenção é marcado por debates sobre as diversas áreas da contabilidade

1 de setembro de 2017

O segundo dia da XI Convenção de Contabilidade de Minas Gerais começou com a realização de três palestras simultâneas. Uma delas, o painel “Reinventando as organizações contábeis com tecnologia inovadora”, foi apresentada por Fábio Miranda, gerente filial da Alterdata Softwares BH, e Helbert Ferreira Macedo, gerente de relações institucionais da Mastermaq Softwares Brasil Ltda.

Fábio Miranda reforçou a necessidade de usar a tecnologia para mudar a forma de fazer contabilidade e, em seguida, Helbert Macedo também defendeu a necessidade de adaptação às novas tecnologias e alertou que as mudanças são gradativas, pois não acontecem da noite para o dia e, por isso, o profissional contábil deve estar aberto para novidades e melhorias. Ele também apresentou o novo profissional da contabilidade: o eContador, que seria aquele profissional que trabalha de forma integrada à internet e consegue alcançar bons resultados em seu desempenho funcional, no desenvolvimento de tarefas e na melhoria de seu relacionamento com o cliente.

O painel “Contabilidade e compilance no Terceiro Setor” contou com a presença do ex-judoca Flávio Canto e do conselheiro do Conselho Regional de Contabilidade do Estado de São Paulo (CRCSP), Marcelo Roberto Monello. Para abrir o painel, a moderadora do debate, Daniela Balbina, coordenadora do Grupo de Trabalho do Terceiro Setor, explicou o que é o Terceiro Setor e o termo compliance. Segundo ela, as principais características do compliance são a atuação com ética, equidade e transparência. “O desafio do Terceiro Setor é falar de compliance, explicando como atingir a sua finalidade de formar ética, agindo de acordo com as regras e sendo transparente. Só porque estamos fazendo uma atividade social não significa que podemos cometer atos ilegais.”, avaliou Balbino.

Em seguida, Flávio Canto mostrou como foi sua trajetória no esporte e o que fez para que o Instituto Reação, fundado por ele, tivesse uma história de sucesso. Hoje, o Instituto atende quase 1.500 pessoas, entre crianças e jovens carentes, com a missão de desenvolver o potencial de cada um, além de lutar contra a desigualdade de oportunidades. “Enfrentamos muitas dificuldades, mas conseguimos, hoje, ser uma realidade. No Terceiro Setor, muitas coisas funcionam com seriedade. Precisamos de profissionais, como os contadores, para que essas instituições transformem seus objetivos em realidade. E o sucesso não está ligado somente à quantidade de vezes que você levanta, mas, sobretudo, à quantidade de pessoas que ajudamos a levantar.”, falou Canto.

Para encerrar o painel, Marcelo explicou o que é o Terceiro Setor e abordou a parte técnica da contabilidade e quais as atividades desenvolvidas na área. Segundo ele, esse setor também é um agente da transformação. “Na contabilidade, muitos trabalham com entidades sem fins lucrativos, mas nem todos são do Terceiro Setor, que tem como principal característica a promoção de ações voltadas para o bem-estar comum. E nós, profissionais da contabilidade, temos o papel de auxiliar estas entidades a se manterem. Elas precisam de recursos, e nós devemos mostrar como captá-los de forma ética, correta e transparente.”, finalizou.

A palestra “Convergência da Contabilidade Aplicada ao Setor Público (CASP) aos padrões internacionais nos municípios” foi abordada pela integrante do Grupo de Trabalho da Área Pública do CRCMG, Lucy Fátima de Assis Freitas, e moderada por Regina Lopes de Assis, conselheira e coordenadora do Grupo de Trabalho da Área Pública do CRCMG.

Lucy Freitas enfatizou o espaço cada vez maior da área pública nos eventos realizados pelo CRCMG. Em seguida, falou sobre as etapas do processo de convergência aos padrões internacionais nos munícipios, sobre as cinco primeira normas que já foram publicadas e explicou que se trata “de um processo de adoção de regras e procedimentos contábeis sob uma mesma base conceitual, visando a comparabilidade da situação econômico-financeira de vários países ou de entidades do setor público nacional ou internacional”. Ela destacou a evolução da CASP, que iniciou em 2008, enfatizando cada etapa concluída e as futuras. Lucy também apontou as diretrizes que estão sendo seguidas e os desafios do processo, que é longo e demanda capacitação, recursos e adequação de sistemas.

Na parte da manhã, também foi realizada a apresentação dos trabalhos selecionados para concorrer ao Prêmio Internacional de Produção Contábil Técnico-Científica Prof. Dr. Antônio Lopes de Sá.

Na parte da tarde, com auditório lotado, aconteceu a palestra “Cenários econômicos e políticos: onde estamos e para onde vamos?”, apresentada pelo jornalista da Rede Globo William Waack e pelo colunista do Jornal Folha de São Paulo, comentarista de política e assuntos internacionais da Globo News, Demétrio Magnoli, e moderado por Zulmir Ivânio Breda, vice-presidente técnico do CFC.

Ao abordar o cenário político nacional, William Waack demonstrou sua preocupação com a situação política vivida pelo Brasil nesta crise fiscal catastrófica. Ele citou como exemplo a atual situação do governo do Rio de Janeiro, estado em que o poder público não tem mais a capacidade de arcar com o mínimo necessário para atender às demandas dos cidadãos na sociedade moderna.

Waack falou também da Lava Jato, valorizando a importância das investigações como um processo de mudanças e melhorias para o país. “A Lava Jato não é apenas uma imensa campanha anticorrupção, ela é um fenômeno político brasileiro extraordinário, pois representa a cristalização e a consolidação de uma imensa indignação e revolta popular contra a instituição. Não é simplesmente punir quem achávamos que nunca iria parar atrás das grades.”, avaliou.

Ao final de sua fala, o jornalista deixou um recado otimista para a plateia: “O que está acontecendo não nos foi imposto por nada nem por ninguém, em outras palavras, só depende de nós.”.

Em seguida, Demétrio Magnoli apresentou a situação política em um cenário internacional, analisando a recessão brasileira, a queda do PIB ao longo dos dois últimos anos e, também, a expansão da dívida pública, pois a previsão é de que chegue a quase 90% em 2022.

Magnoli finalizou a palestra com uma observação importante: “O pior de tudo, que observo, é que, em conflitos de crise, muitas vezes, aparecem movimentos políticos reformistas que propõem novos pactos, como aconteceu na última eleição para presidência da França, com um pacote de reformas para salvar o país da crise. No Brasil, ainda não pareceu nenhum que ofereça respostas para a nossa crise política.”, pontuou.

O delegado da polícia Federal, Marcelo Eduardo Freitas, ministrou a palestra “A importância da prova pericial na investigação no caso Lava Jato”, que teve como moderador o conselheiro do CRCMG e coordenador do Grupo de Trabalho de Perícia e Arbitragem, Walter Coelho de Morais.

Freitas apresentou o contexto histórico e as origens dos casos de corrupção no país, relacionando-os com a situação atual. Para ele, o grande problema encontrado nos casos de corrupção e fraude é justamente a péssima qualidade das informações produzidas, o que facilita os superfaturamentos, o pagamento de propinas, a lavagem de dinheiro, entre outros desvios. “O profissional da contabilidade é o guardião da qualidade das informações que são geradas. Ele tem, então, um papel crucial nesse controle. Temos que fiscalizar e mostrar a importância do profissional da contabilidade no combate à corrupção e à sonegação.”, disse.

O delegado ainda destacou algumas situações na Lava Jato que foram identificadas por meio da perícia contábil e pontuou quais medidas os profissionais devem tomar para combater os crimes de lavagem de dinheiro: “Os profissionais devem estabelecer uma política de prevenção à lavagem de dinheiro, com diversos procedimentos de controle, como manter um cadastro completo de clientes; orientar os funcionários adequadamente; registrar todas das informações contábeis; enviar, anualmente, ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) a declaração negativa; fazer gestão de documentos digitais, entre outros.”.

Para encerrar o segundo dia de palestras, José Felipe Carneiro, fundador da Cervejaria Wäls, falou sobre “Inovação e empreendedorismo” e ressaltou a importância de fazer diferente em um mercado com muita concorrência, para manter a empresa viva. Além disso, abordou a valorização de uma equipe: “Ninguém faz nada sozinho. Levem essas pessoas com vocês. Conseguimos trazer a equipe para a nossa realidade quando somos transparentes, quando mostramos nossos números para que vejam os gastos e lucros da empresa.”, explicou. O palestrante também falou da relevância dos trabalhos sociais e doações. “Doe trabalho para um mundo melhor. Os nosso valores são maiores do que enaltecer o nome da nossa marca.”, disse. Para encerrar, ele afirmou que, para fazer sucesso, é essencial que as pessoas façam o melhor, procurando ser a melhor no ramo. “Esse pensamento move para o impossível!”, finalizou.

Em seguida, houve o anúncio dos vencedores do Prêmio Internacional de Produção Contábil Técnico-Científica Prof. Dr. Antônio Lopes de Sá. Os vencedores da modalidade Iniciação Científica foram os autores do trabalho “Simples Nacional: aspectos tributários no setor de consultoria empresarial”. Já na modalidade Acadêmico-científica, o trabalho vencedor foi “Associação entre características de perfil e indicadores de desempenho das universidades federais brasileiras”.

Para encerrar a programação do dia, a Orquestra de Câmara do Sesiminas, composta por 20 músicos e regida pelo maestro Marco Antônio Maia Drumond, se apresentou no auditório principal, com repertório variado, que incluiu tanto músicas clássicas quanto modernas.