XII Convenção de Contabilidade de Minas Gerais

7 de junho de 2019

XII Convenção de Contabilidade de Minas Gerais

Segundo dia do evento é marcado por homenagem, palestras e debates sobre temas diversificados

O segundo dia da Convenção teve início com a apresentação da Banda do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG). Em seguida, a presidente do CRCMG, Rosa Maria Abreu Barros, e o presidente do CFC, Zulmir Ivânio Breda, realizaram a abertura oficial do evento.

A presidente do CRCMG iniciou sua fala agradecendo a presença de todos, bem como os membros do Conselho Diretor, os conselheiros e os colaboradores do CRCMG, pelo incansável trabalho para a realização da XII Convenção de Contabilidade de Minas Gerais, que registrou mais de 1500 inscritos, número recorde de público entre as convenções realizadas pelo CRCMG.

Destacou o momento atual, em que há uma disruptura nas relações individuais e econômicas. “Todos os conceitos que pautaram nosso trabalho no Século XX estão sendo postos em cheque neste século, e os métodos mais tradicionais de gestão são insuficientes para lidar com tantas mudanças. A tecnologia e a velocidade da informação nos obrigam a ampliar nossos horizontes para identificar os riscos e as melhores oportunidades; o mundo digital invandiu também nosso campo de trabalho e a inteligência artificial está mudando os paradigmas da contabilidade. Precisamos nos capacitar e aprimorar nosso conhecimento técnico, lançando mão de ferramentas inovadoras que nos permitam ter agilidade e assertividade para enfrentar novos desafios e resolver os dilemas propostos.”, ressaltou.

A presidente enfatizou o trabalho da atual gestão que, atenta a este novo cenário, procurou trazer para o evento palestrantes renomados em diversas áreas, com o intuito de que a troca de experiências e de ideias possa agregar conhecimento àqueles que exercem a profissão contábil com ética, boa técnica e em conformidade com a legislação. “Além do desenvolvimento profissional que um evento dessa magnitude é capaz de ensejar, buscamos, também, o aprimoramento humano, para que as relações sociais sejam melhores. Em todo o mundo, vemos que as discussões do universo contábil ultrapassam seus limites e são perpassadas por questões relativas à ética e à responsabilidade social. Não por acaso, o Conselho Federal de Contabilidade acaba de editar o Novo Código de Ética Profissional do Contador.”, disse.

Finalizando, Rosa Abreu afirmou ter a expectativa de que os profissionais da contabilidade saiam da Convenção com a certeza de que são imprescindíveis na construção de um país ético, economicamente sustentável e livre da corrupção.

O presidente do CFC, Zulmir Breda, destacou a satisfação em participar da Convenção e ressaltou que o CRCMG sempre realiza eventos de qualidade, que impactam positivamente os participantes: “A profissão vem passando por um grande processo de transformação, e esta Convenção será palco de importantes reflexões nesse sentido.”, disse ele.

Homenagem

Durante a solenidade, o Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais foi homenageado pelo CRCMG, devido ao importante trabalho humanitário realizado após o rompimento da barragem da mina do Córrego do Feijão, no dia 25 de janeiro, no município de Brumadinho, que resultou na morte de mais de 200 pessoas, além de milhares de pessoas atingidas. O coronel Robespierre de Oliveira Silva, auditor setorial do CBMMG, representando o comandante-geral, coronel Edgard Estevo da Silva, recebeu uma placa das mãos da presidente Rosa Maria Abreu Barros.

Palestras

A palestra de abertura, com o tema “Reflexões sobre os impactos da tecnologia na profissão”, foi realizada pelo presidente do CFC, Zulmir Ivânio Breda.

Segundo ele, diante das inovações, o contador precisa estar sempre em evolução, para acompanhar os impactos da tecnologia e garantir a eficiência no cumprimento das atribuições contábeis. “Não devemos ter medo da Inteligência Artificial. O que precisamos entender é que a automação vai substituir algumas das nossas tarefas. E a missão é inovar, buscar capacitação e formas de acompanharmos a revolução tecnológica, como sempre fizemos em toda a história.”, pontou ele.

Para Zulmir, com a expansão virtual, o ceticismo profissional é imprescindível: o contador precisa desenvolver uma estrutura voltada a garantir a integridade, a objetividade e a confidencialidade dos sistemas, para o correto fornecimento das informações.

“A ética passa a ser a palavra de ordem no mundo digital. Se o risco é grande em um mundo palpável e físico, no cenário online é muito maior.”, ressaltou Breda. Na visão do presidente do CFC, a nova perspectiva da profissão engloba um contador mais voltado aos aspectos estratégicos, com visão de futuro e competências para a realização de análises diagnósticas, descritivas e, fundamentalmente, prescritivas das situações.
Sobre o futuro da profissão, Zulmir Breda voltou a dizer que o mercado está em ascensão. De acordo com dados do CFC, de 2014 a 2018, o cenário das organizações contábeis no Brasil aumentou 53,84%, e o curso de Ciências Contábeis está entre os mais procurados no país.

“A quarta revolução industrial veio para auxiliar a profissão contábil, e não destruí-la. Não há outro caminho a não ser entrar nesse ritmo de aperfeiçoamento e de inovações, e o profissional que não fizer isso ficará para trás e, provavelmente, terá que mudar de profissão.”, concluiu.

“Enfrentando a corrupção do Brasil” foi o tema da palestra magna, proferida pelo economista Eduardo Moreira. Na ocasião, Eduardo falou sobre os problemas enfrentados pelo Brasil e sobre o que pode ser feito para mudar essa realidade. Segundo ele, o maior problema do país é a sua desigualdade, pois 1% da população é rica, gasta pouco e poupa muito, enquanto 90% é pobre e gasta tudo o que tem, com a maior parte de seu dinheiro indo para os impostos. “O Estado se transformou em uma máquina de transferência de renda, e todo mundo quer pegar seu pedaço. Se queremos um país menos corrupto, temos que começar a atacar essa máquina de desigualdade.”, encerrou Moreira.

Para finalizar as palestras da manhã, a comentarista de política e economia do Jornal das Dez, na GloboNews, Natuza Nery, falou sobre “O Brasil em 2019: para onde vamos?”. Natuza abordou os bastidores da política no Brasil, as discussões e decisões tomadas nos governos e a importância da consciência da sociedade sobre as pautas discutidas, sobretudo a reforma previdenciária, que é uma das discussões em destaque hoje. “Vejo o momento atual sob uma lente otimista, pois a maioria das pessoas já tem consciência da necessidade de uma reforma previdenciária – mesmo que sejam a favor ou contra alguns pontos, as pessoas são a favor de se ter uma mudança. Sabemos que há um choque entre o Executivo e o Legislativo. Porém, não temos outra alternativa a não ser votar a favor da reforma. Mas só vai dar certo se o Governo e o Congresso pararem de brincar à beira do abismo.”, finaliza Nery.

O período da tarde teve início com a realização de três palestras simultâneas.

O autor de livros de contabilidade e auditoria e conselheiro do CRCRJ, Marcelo Cavalcanti Almeida, e o presidente do Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (Ibracon), Francisco Antônio Maldonado Sant’Anna, falaram sobre “Os principais reflexos das normas contábeis para a gestão de empresas”.

Marcelo Cavalcanti apresentou algumas operações de arrendamento com a nova norma aplicada em janeiro de 2019, a IFRS 16, regulada no Brasil pelo Pronunciamento Técnico CPC (R2). De acordo com a nova exigência, todos os arrendamentos serão reconhecidos no balanço patrimonial das arrendatárias. A nova abordagem contábil acaba com a distinção entre leasing financeiro e operacional. Assim, os contratos de arrendamento deverão ter tratamento contábil semelhante ao atual arrendamento financeiro, salvo exceções facultativas.

Ainda sobre esse tema, o presidente da Ibracon Francisco Sant’Anna complementou o encontro trazendo alguns exemplos de órgãos emissores de normas, como a IAASB (International Auditing and Assurance Standard Board, emissor de normas de auditoria, asseguração e controle de qualidade); IESB (International Accouting Education Standard Board, que estabelece normas na área de educação profissional); IESBA (International Ethics Standards Board for Accountants, que estabelece normas éticas relativas à profissão contábil, incluindo requerimentos de independência) e IPSASB (International Public Sector Accouting Standard Board, que desenvolve normas, guias e recursos para uso de entidade do setor público, no que se refere à preparação de demonstrações contábeis de propósito geral).

Além de abordar as frentes de atuação do Ibracon, Francisco Sant’Anna tratou da importância de os profissionais da contabilidade se atualizarem e se qualificarem para estarem à frente no mercado de trabalho, destacando que a educação continuada é a melhor ferramenta nesse processo. “A contabilidade está sempre em evolução e precisamos estar qualificados. A contabilidade é a única profissão no Brasil que possui um Programa de Educação Profissional Continuada. Devemos aproveitar e ter orgulho disso!”, afirmou ele.

O tema “Recuperação Judicial” foi abordado por Júlio César Teixeira de Siqueira, profissional com experiência nas áreas administrativa e financeira e autor do livro “Recuperação Judicial de Empresas Médias e Pequenas”. Ele apresentou aspectos da crise financeira e econômica, mostrou os números do mercado, explicou como surge a recuperação judicial e pontuou os cenários que se apresentam no processo. Para Siqueira, “não existe recuperação judicial sem um profissional da contabilidade”.

A palestra sobre “Qual é o papel da sociedade na renovação política” foi apresentada por Eduardo Mufarej, idealizador do Renova BR e presidente do Conselho da Confederação Brasileira de Rugby (CBRu). Eduardo defende que a política deve ser um lugar de gente talentosa. E, para ele, a única forma de mudar a realidade política do Brasil é com o envolvimento e o entendimento da sociedade sobre o que está acontecendo na política. “A sociedade civil engajada não permite que a incompetência ocupe todos os espaços na política. Desde 2013, a sociedade vem participando, com manifestações, o que faz com que uma nova safra de empreendedores e políticos surja, alinhada com esse pensamento de mudança. Precisamos mudar nossa forma de atuar. Temos que estar dispostos a sair do lugar comum e arriscar, senão fica difícil mudar.”, defendeu Mufarej.

Além disso, Mufarej falou sobre seu programa, o Renova BR, que busca novas personalidades – pessoas que nunca ocuparam cargos eletivos, mas engajadas com uma mudança – para prepará-las para atuarem no campo político e serem lideranças qualificadas. “Nossa esperança é que, com essa renovação, a realidade do país mude. Quanto mais pessoas estiverem nesse caminho, mais bons frutos colheremos!”, finaliza ele.

Dando continuidade à programação, o tema “A Receita Federal do Brasil e o atual ambiente tributário – o relacionamento com o contribuinte” foi discutido pelo advogado e contador Fábio Hiroshi Higuchi, que contou um pouco da sua experiência na área contábil e sobre a mediação da tecnologia nas relações entre contador e fiscal.

Falando sobre a evolução da contabilidade no novo século, Fábio Hiroshi pontuou como a tecnologia melhorou os processos contábeis, citando como exemplo os livros diários no modelo de “gelatina” (processo de transmissão de ficha tríplice para o diário) e no atual espaço digital, que facilitou o trabalho do contador.

Na sequência, o auditor fiscal Mário José Dehon São Thiago Santiago iniciou sua fala convidando o público a repensar sobre o futuro do relacionamento entre a Receita Federal e o contribuinte.

Com demonstrações das arrecadações dos últimos nove anos, Mário Santiago mostrou como a arrecadação de tributos melhorou com a adoção de um programa de compliance na Receita Federal. Além disso, Mário Santiago citou que o principal desafio da Receita Federal é não perder a sua credibilidade e manter sua relevância social, finalizando com uma dica para toda a classe contábil: “Se vocês quiserem se manter no mercado com essa nova era da tecnologia, se esforcem para manterem a relevância social da profissão contábil!”.

Para encerrar o segundo dia de Convenção, o ex-judoca Flávio Canto apresentou a palestra “Reação, transformação e sonhos”, que abordou sua trajetória no esporte e na TV, além do início do seu projeto, o Instituto Reação, pontuando o que foi necessário para que o instituto obtivesse uma história de sucesso. Para ele, o sucesso próprio não pode ser uma meta: “Quando você junta força com outras pessoas, ajuda o próximo a ter sucesso e, naturalmente, o seu sucesso vem. Precisamos de mais pessoas que ajudem o próximo. O sucesso não está ligado somente à quantidade de vezes que você levanta, mas, sobretudo, à quantidade de pessoas que ajuda a levantar.”, falou Canto.

Além de passar suas experiências, Flávio surpreendeu a todos com a presença do judoca refugiado Popole Misenga. Popole emocionou ao contar sua história, desde sua saída da República do Congo, fugido por causa da guerra, até seu acolhimento no Brasil e no Instituto Reação. Ele ainda contou como entrou na primeira seleção de refugiados e participou pela primeira vez das Olimpíadas, no Rio de Janeiro. “No início, foi muito difícil para mim. Não conseguia entender nada que falavam, não sabia nem o que era o português. Passei fome, ninguém me aceitava, até conhecer uma pessoa que me apresentou ao Flávio. Hoje, estou aqui, tenho sonhos, quero ser inspiração para outros refugiados, outras crianças de rua e da favela. E peço para que quem puder ajude essas instituições, como o Reação, pois assim você ajuda a alma de outra pessoa.”, finalizou Popole.

Mérito Contábil

Durante a Convenção, aconteceu a entrega da Medalha do Mérito Contábil de Minas Gerais. O agraciado foi o contador, perito contábil e professor José Eustáquio Geovanini. A Medalha Mérito Contábil de Minas Gerais, instituída pela Resolução CRCMG n.º 272/2004, é a maior honraria concedida a um profissional da contabilidade em Minas Gerais. Destina-se a agraciar aqueles que, por seu trabalho e dedicação, tenham-se distinguido ou alcançado projeção no exercício da profissão contábil, atuando em entidades contábeis ou exercendo atividades no campo político, acadêmico, financeiro e administrativo, no setor público ou privado.

Em seu pronunciamento, o agraciado destacou a gratidão que sente nesse momento. Agradeceu todos os envolvidos na escolha de seu nome, bem como sua família, amigos e colegas de profissão. “Estou muito honrado em receber a Medalha. Trata-se de um grande marco na minha vida, se não for o maior deles. É muito bom quando a gente consegue deixar algum legado. Mas sinto que ainda tenho muito o que fazer pela profissão e peço a Deus saúde para dar continuidade à minha trajetória. Agradeço ao CRCMG por, no meio dessa caminhada, ter aberto as portas para mim. Muito obrigado a todos!”, disse ele.

Prêmio Internacional Lopes de Sá

Na sequência, foi realizada a solenidade de entrega do Prêmio Internacional de Produção Contábil Técnico-Científica Professor Doutor Antônio Lopes de Sá. O Prêmio Internacional é promovido pelo CRCMG, pela Fundação Brasileira de Contabilidade (FBC) e pela Academia Brasileira de Ciências Contábeis (Abracicon). Os vencedores foram:

Iniciação Cientifica

1º lugar – Escolhas Contábeis: um estudo nas empresas listadas na B3 – Railainy Maria da Silva Felix, Gabriel de Oliveira e Mariana Pereira Bonfim

2º lugar – Ensino da Contabilidade Pública: uma análise das matrizes curriculares dos cursos de graduação em Ciências Contábeis das instituições de ensino superior de Minas Gerais – Marielle Luiza de Oliveira, Alessandra Vieira Cunha Marques

3º lugar – Perfil das despesas públicas: uma análise comportamental das despesas nos municípios do alto Rio Pardo no período de 2014 a 2017 – Bianca Matos Pereira

Acadêmico-Científica:

1º lugar – Governança Corporativa: uma análise da relação entre o turnover da Administração e o desempenho – Bárbara Siqueira da Silva, Danielle Gonçalves Silva, Valéria Gama e Bruna Camargos Avelino

2º lugar – Relação entre Audit Report Lag e gerenciamento de resultados no Brasil – João Paulo de Assis Valadares, Rafael Morais de Souza, Fernando Murcia e Eduardo Mendes Nascimento

3º lugar – Ensino presencial ou ensino a distância? Desempenho de estudantes do curso de Ciências Contábeis no Enade – Victor Hugo Pereira e Bruna Camargos Avelino

Os primeiros, segundos e terceiros lugares, em cada uma das categorias, receberam R$ 4 mil, R$ 3 mil e R$ 1.500,00, respectivamente.